José Luís Mendes, de 57 anos, é um dos principais rostos do Futsal Nacional. Natural da Covilhã, o treinador sagrou-se, recentemente, Campeão da Europa Sub-19 de Futsal e é o braço direito do Selecionador Nacional, Jorge Braz.

A paixão pelo Desporto, independentemente da modalidade, já vem dos tempos de criança e a idas regulares ao Estádio Santos Pinto para assistir às partidas do Sporting da Covilhã, com o pai, ainda fizeram aumentar mais esse amor.

Passou pelo Futebol e pelo Futsal Feminino e Universitário, antes de chegar ao Futsal Masculino Sénior – AD Fundão e Federação Portuguesa de Futebol (FPF).

José Luís Mendes é o convidado de março da nova rúbrica da Associação de Futebol de Castelo Branco: “No Interior do Jogo”.

Ligado há vários anos à FPF, o técnico conta como foi a juventude e o percurso e os sacrifícios que teve de trilhar para chegar à elite do Futsal Nacional.

AFCB: Como foi a juventude? Foste federado em alguma modalidade?

JLM: Uma criança normal e que uma infância normal. Em relação ao desporto, sempre fui uma pessoa que teve uma grande vontade e um grande desejo de praticar tudo o que era desporto. Sempre gostei muito, via na televisão e era um fã incondicional, quando era miúdo, do Sporting da Covilhã.

Também ia acompanhando outros desportos aqui na região. Por exemplo, no Basquetebol, às vezes via jogos do Clube Desportivo da Covilhã, no Voleibol o Núcleo de Vólei de Estudantes, que chegou a andar nas divisões mais altas a nível nacional… Tudo o que houvesse de eventos desportivos na Covilhã gostava de assistir.

Não fui um grande praticante federado. Joguei futebol, uma época, na Associação Desportiva da Estação (ADE). Esse gosto levou-me, a nível académico, a seguir Desporto e acabei por tirar Educação Física e, desde então, fiquei sempre ligado ao treino.

AFCB: Como surgiu, então, a ligação ao Futsal?

JLM: A ligação ao Futsal aparece através da Associação Académica da Universidade da Beira Interior (AAUBI) no meu segundo ano a dar aulas. Fui colocado em Oliveira do Hospital e ia e vinha para dar treino aos miúdos da Associação Desportiva da Estação. Nesse mesmo ano, o João Paulo Matos, que me já tinha “levado” para a ADE, também me convidou para o ajudar a treinar a equipa da AAUBI nos Campeonatos Nacionais Universitários. E foi aí que comecei no Futsal.

No ano seguinte, fui colocado em Arganil e continuava a ir e vir para dar treino na ADE. Mais tarde, em 1996, surge a oportunidade de ficar a treinar a equipa masculina da Universidade da Beira Interior (UBI) e aí comecei a investir um pouco mais no Futsal. Treinava os miúdos da ADE e, à noite, treinava as equipas universitárias da UBI.

O Pedro Dias, atual Diretor da FPF, e o Paulo Meireles, que era um dirigente da AAUBI, convidaram-me para ser adjunto do Orlando Duarte nas Seleções Universitárias de Futsal. Não estava à espera do convite e foi aí que tomei consciência que não percebia nada de Futsal. Aceitei o convite e comecei a trabalhar com o Orlando Duarte - que era treinador do Sporting CP e simultaneamente Selecionador Nacional e das Seleções Universitárias de Futsal.

Criámos uma empatia muito grande e o Orlando é o grande responsável por ter desenvolvido o gosto pela modalidade. Fiz o Mundial Universitário em 1996, na Finlândia, em que o guarda-redes era o Jorge Braz, atual Selecionador Nacional. Fizemos uma amizade muito grande logo e, através do Desporto Universitário, dá-se a passagem para o Futsal.

Em 1997/98, saio da ADE e surge a hipótese de treinar a equipa feminina do Unidos Futebol Clube, do Tortosendo. Vivia lá na altura e o meu primeiro contacto federado com a modalidade, como treinador, foi no Unidos do Tortosendo. Estive dois anos no Clube e, mais tarde, fui convidado para o Estrela do Zêzere, da Boidobra, também em Futsal Feminino. Tínhamos uma equipa fantástica, chegámos a ir à final da Taça Nacional, o que era quase impensável. Tínhamos uma equipa de muita qualidade e perdemos com o Del Negro que era, na altura, a base da Seleção Nacional.

Entretanto também comecei a colaborar com a Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB) como Selecionador Distrital. Tivemos duas finais em Torneios Interassociações, quando as competições ainda tinham classificação final. Perdemos uma final com Lisboa, nos penaltis, com a equipa feminina, e outra, em Sub-18, com a equipa masculino. E Castelo Branco estar na final de um TIA também era uma coisa pouco comum.

Estive quatro anos na equipa feminina do Boidobra e, no último, surge a oportunidade de ir para a Associação Desportiva do Fundão, que na altura estava na III Divisão Nacional.

AFCB: Qual foi a realidade que encontraste quando chegaste à AD Fundão?

JML: Era um Clube que tinha um potencial muito grande, porque tinha instalações próprias e o apoio da Câmara Municipal do Fundão. Claro que, em termos de estrutura organizativa, tinha algumas debilidades, que se foram tentando conquistar com aquilo que foi o desenrolar dos acontecimentos, mas não tem nada a ver com o que é atualmente.

Não era uma estrutura profissional, nem nada que se parecesse. Tínhamos muitas limitações em algumas áreas, mas também a nível nacional, o Futsal não estava tão desenvolvido como agora. Lembro-me que havia uma aposta clara em colocar a equipa num patamar mais elevado e as coisas foram acontecendo de forma natural.

Estive ligado à AD Fundão oito anos. Dois anos na III Divisão, estivemos mais duas épocas na II Divisão e, no segundo ano, subimos à I Divisão, onde estivemos durante quatro anos. Na altura, ainda se disputava o play-out, ou seja, as últimas quatro equipas jogavam entre elas para descerem duas e, nas duas primeiras épocas no principal escalão, a AD Fundão acabou por ir ao play-out. Felizmente, conseguimos manter e, nos últimos dois anos, conseguimos boas classificações e acabámos por ir ao play-off. Foi sempre em crescendo.

AFCB: Em 2010, há mudança para a Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Como é que surgiu essa mudança e como a encaraste?

JML: O convite surge após o Europeu de 2010, em que Portugal foi Vice-Campeão da Europa e essa foi a última época do Orlando Duarte na FPF. O Jorge Braz, que era o adjunto na altura, ficou como Selecionador Nacional e convidou-me para ser adjunto. Estava na AD Fundão, estávamos a passar um período de enorme instabilidade e dificuldade e, após pensar muito, acabei por aceitar o convite. Na época 2010/11, vou para FPF.

AFCB: Vais apenas como adjunto do Selecionador Nacional ou já tinhas alguma responsabilidade na formação?

JML: A minha entrada na FPF ainda se dá na altura da anterior Direção, com o Gilberto Madaíl. Só tínhamos a Seleção principal. Na altura, os Torneios Interassociações (TIA) tinham sido suspensos, portanto não tínhamos atividade nenhuma com outras Seleções. A minha primeira ação foi um estágio em setembro, com 20 jogadores, e participámos num Torneio no Brasil, onde tive a minha primeira experiência internacional. Portugal tinha igualmente recebido um convite para reativar a Seleção Nacional de Futsal Feminino, para participar num Torneio Mundial, e a Direção da FPF declinou-o. Entretanto uma das equipas desiste, volta a surgir o convite e a Direção acaba por aceder à reativação da Seleção de Futsal Feminino. E, em dezembro 2010, participámos no primeiro Torneio Mundial.

Ficámos em 2º lugar, eliminámos Espanha nas meias-finais e perdemos com o Brasil na final. Com este brilharete, as coisas ficaram mais fáceis para a Seleção Feminina e todos os anos havia um Torneio Mundial. Passámos, então, a ter a Seleção A Masculina e Feminina, mas a Feminina só tinha duas ações por ano. As Seleções jovens aparecem em 2012. Após o Campeonato do Mundo na Tailândia, surge o convite para participarmos no Torneio de São Petersburgo, com a Seleção Sub-21. Quase nem treinámos, pois estávamos a participar no Torneio Mundial Feminino em Oliveira de Azeméis, acabámos por ir e é aí que se dá a reativação das Seleções Jovens. Foi o primeiro passo, numa altura em que já existe uma nova Direção da FPF – com Fernando Gomes.

Em 2013, a Seleção Sub-21 já teve estágios de preparação e jogos amigáveis, nomeadamente com Espanha. No Torneio em São Petersburgo, ainda foi o Jorge Braz que orientou a equipa, mas depois passo a ser eu o treinador da Seleção Sub-21 e, a partir daqui, foram criadas as outras Seleções.

AFCB: Como é que está distribuído todo o processo de formação na FPF?

JLM: A nossa estrutura é simples. O Jorge Braz é o Selecionador Nacional e o Diretor Técnico Nacional. Eu sou responsável por orientar as Seleções de Sub-21 e os Sub-19, coordeno algumas coisas mais gerais no que diz respeito às observações dos atletas e respetivas bases de dados. O Emidio Rodrigues é Treinador Nacional dos Sub-17 e dos Sub-15. Sou também responsável pelos Centros de Treino dos Sub-13 e pela parte técnica dos TIA. Temos o Bebé, que está com todas as Seleções de formação, incluindo os Sub-21, na parte específica do treino de guarda-redes, e o Pedro Cary faz parte da estrutura técnica dos Sub-17 e dos Centros de Treino dos Sub-13. Temos ainda o Projeto de Fundamentos, em que vamos a todas as Associações Distritais e Regionais (ADR’s) e o Pedro Cary é o patrono desse projeto, em que todos os elementos da Equipa Técnica Nacional dão essa parte da formação.