Aníbal Antunes é Presidente da Direção do Grupo Desportivo Águias do Moradal há mais de 30 anos e um dos mais antigos do nosso distrito. Já conquistou cerca de 14 títulos distritais e garantiu cinco participações nas competições nacionais.

A paixão pela terra – o Estreito – e o gosto pelo Futebol fazem-no manter-se no cargo, numa altura em que a atividade profissional não lhe permite fazer o mesmo acompanhamento à equipa que nos anos iniciais.

Com o intuito de destacar o papel do dirigente no Desporto e na nossa região, a AFCB foi ao encontro do responsável diretivo. Nesta segunda parte da conversa, Aníbal Antunes explica que “não quer deixar cair o Clube no vazio” e quer “manter tudo vivo” até pela questão social na aldeia.

AFCB: Acredito que seja um cargo que lhe requer muito tempo e que a família seja a mais prejudicada. O que o leva a continuar neste cargo?

AA: Qualquer agente desportivo – seja dirigente, treinador ou jogador – sabe que a família é sempre a mais prejudicada. Se tudo for planeado e coordenado, as coisas vão funcionando, mas muitas vezes as atividades profissionais já não são compatíveis com esta vida. Ser dirigente de um Clube já exige muito tempo e responsabilidade.

O que me move é não deixar cair o que conseguimos construir nas últimas três décadas. Essa a minha principal motivação. Não sei quando vou sair, mas quando acontecer, gostava de deixar o Clube entregue a alguém que desse continuidade. Neste momento, o concelho de Oleiros só tem um Clube de Futebol. E já teve três. Somos o único representante e, como tal, não pode cair no vazio.

AFCB: Que objetivos ainda tem por cumprir no Futebol?

AA: O meu principal objetivo continua a ser que o GD Águias do Moradal exista enquanto equipa federada no nosso Campeonato Distrital. O resto não é importante. Não nos importamos se o Clube sobe ou desce. A Direção e as pessoas do Estreito só querem uma equipa de Futebol para se divertirem no domingo. O que me move é mais esta questão social e manter tudo vivo. O futuro a Deus pertence.

AFCB: Lidera um clube de um distrito do interior e numa zona cada vez mais desertificada. Como é que se consegue montar equipas e atrair jogadores para estas zonas?

AA: O GD Águias do Moradal está rodeado de pessoas que sabem das nossas condicionantes e que nos aconselham determinados jogadores. Temos um projeto, já há uns anos, para a construção de uma residência para atletas no Campo do Ventoso. Esta ideia chegou a ser considerada pelas entidades oficiais, mas ultimamente nem tanto. Vou manter-me com essa opção em aberto. No Estreito, temos poucos alojamentos para colocar os jogadores e, por isso, esta residência seria muito importante.

Assim temos de arranjar outras soluções e andar com carrinhas e transportá-los de Castelo Branco ou da Sertã, com outros custos associados. O ideal seria mesmo fazer o projeto em mente – uma habitação, com vários quartos. Neste momento, temos um jogador a trabalhar cá. Se conseguirmos ter um ou dois jogadores a viver, trabalhar e jogar no Estreito seria muito bom. Vamos ver que possibilidades se vão abrir.

AFCB: Falou-nos um pouco dos obstáculos que tem para trazer atletas para esta zona, mas como tenta atrai-los para esta realidade?

AA: Tentamos alojá-los no Estreito e oferecemos também a alimentação. Pagamos também uma verba condizente com aquilo que o Clube pode oferecer. Antigamente, dizia-se que o Pinhal tinha muito dinheiro, mas atualmente, a realidade é diferente, uma vez que o Pinhal ardeu. Temos de arranjar soluções para enfrentar a situação presente.

AFCB: O GD Águias Moradal, apesar de estar num distrito e concelho com pouca densidade populacional, é sempre competitivo e luta pelos lugares cimeiros do Campeonato Distrital. Qual é o método de trabalho?

AA: O essencial é mantermos a mística desde a fundação. Ainda temos Diretores que jogaram no Clube nos anos 80 e passamos um pouco a mística do Clube, que é ganhar. Depois se ficamos em 1º ou em 2º lugar, já não é tão importante. Tentamos captar pessoas que venham ajudar-nos e que gostem de nos representar, mesmo que seja só uma época. E acredito que, se fizerem cá uma boa temporada, terão mais portas abertas no mundo do Futebol. Queremos sempre uma equipa humilde, trabalhadora e disciplinada. O resto, mais tarde, logo se vê. Se ganhamos ou não, se subimos ou não. Isso não é o fundamental, até porque participar num Campeonato de Portugal já exige muitos requisitos.

AFCB: Que caraterísticas procura nos treinadores? E nos jogadores?

AA: Na questão dos treinadores, não sou muito apologista das mudanças. Quando contrato um técnico, a única coisa que lhe peço é que dê continuidade ao GD Águias do Moradal. Já tivemos cá treinadores que foram campeões na primeira época, foram ao Nacional e acabaram por sair. É a lei do Futebol. Não mudava de treinador para tentar manter no Nacional. Só tomávamos essa decisão quando percebíamos que as coisas estavam extremadas. E isso não está relacionado com resultados. A única coisa que peço é continuidade. Não há nenhum treinador com quem me dê mal e todos colaboraram para que este Clube ainda esteja de pé.

AFCB: Qual o treinador mais marcante da sua presidência?

AA: Gostei de todos os treinadores que passaram e preferia não referir nomes para não ferir suscetibilidades, mas toda a gente me vai perdoar, pela persistência, pela ajuda e pela colaboração, terei de dizer António Belo.

AFCB: Como é que se mantém, atualmente, um Clube estável financeiramente?

AA: A gestão é um pouco tentar empurrar de um lado e do outro, pedindo, cada vez mais, a colaboração dos sócios. Tentamos, todas as épocas, novos patrocínios e o restante advém dos apoios da Câmara Municipal e da Junta de Freguesia e dos patrocinadores que já temos.

AFCB: Que tipo de Presidente é o Aníbal Antunes? É próximo da equipa e dos jogadores?

AA: Por força das circunstâncias, o Presidente Aníbal tem duas vertentes. Nos primeiros anos, quando temos sangue na guelra, não havia ninguém que chegasse primeiro que o Presidente – fossem jogadores, treinadores ou diretores. Nos últimos tempos, isso não tem sido possível, fruto da atividade profissional. Continuo a acompanhar, mas gostava de ser muito mais presente. Ainda assim, está sempre alguém com a mesma missão. O Clube continua a ser bem gerido e os jogadores sentem o nosso apoio.

AFCB: Há tantos anos no mundo do Futebol, seguramente já teve vários episódios e histórias marcantes. Quer partilhar alguma connosco?

AA: Tenho várias, mas já nem me recordo de todas. Não choro pelo GD Águias do Moradal, nem de alegria, nem de tristeza. Chorei, quando em 2013, perdi um filho e os jogadores fizeram uma linda homenagem. Tenho comigo o equipamento que me ofereceram e fiquei muito sensibilizado pelo momento e por uma tomada de decisão da Assembleia-Geral do Clube, em que decidiu deixar de utilizar o número 12. Isso não esqueço. Foi e será pelo meu filho que irei continuar, porque também gostava do Clube e, mesmo doente, sempre me deu força e disse para nunca desistir.