Aníbal Antunes é Presidente da Direção do Grupo Desportivo Águias do Moradal há mais de 30 anos e um dos mais antigos do nosso distrito. Já conquistou cerca de 14 títulos distritais e garantiu cinco participações nas competições nacionais.

A paixão pela terra – o Estreito – e o gosto pelo Futebol fazem-no manter-se no cargo, numa altura em que a atividade profissional não lhe permite fazer o mesmo acompanhamento à equipa que nos anos iniciais.

Com o intuito de destacar o papel do dirigente no Desporto e na nossa região, a AFCB esteve à conversa com o responsável diretivo, ficando a conhecer melhor o seu percurso e os obstáculos nas últimas três décadas.

AFCB: Como foi a infância e a juventude? Nasceu no Estreito? Já havia uma ligação ao Futebol?

AA: Nasci no Estreito, mas sai para novas paragens em tenra idade. Fui para Castelo Branco com 14 anos, para a Hotelaria, que ainda é a minha ocupação atual, e mantive-me lá até aos tempos de tropa. Após a tropa, voltei a Castelo Branco, ao Alcino Bar, que era muito conhecido em Castelo Branco anos 70.

Mais tarde, fui para Tomar, para uma marisqueira. Estive lá cerca de três anos, a aprender, para posteriormente abrir o meu negócio, uma vez que sempre foi o meu sonho. Com 24 anos, voltei ao Estreito e abri um estabelecimento, que ainda possuo atualmente.

AFCB: Praticou algum desporto federado na juventude?

AA: Não, nunca pratiquei nenhum desporto federado. Jogava Futebol com os amigos, mas nunca nada muito sério. Até porque, nessa altura, não havia equipa federada.

AFCB: Qual o primeiro contacto com o dirigismo desportivo?

AA: Na altura em que estive em Castelo Branco, em 1978, já existia o GD Águias do Moradal, embora ainda não fosse muito legalizado. Nesse ano, houve um torneio, organizado pela Direção Geral de Desportos, denominado “Primavera 78”. Como estava em Castelo Branco, fiz todos os esforços para o GD Águias do Moradal participar nesta competição.

Foi aí que comecei a ter o primeiro contacto com o mundo do Futebol e começou a nascer o espírito do Clube participar nos Campeonatos Distritais. Nessa altura ainda não tinha qualquer ligação à instituição, mas nasceu neste momento.

Em 1979, organizei uma partida contra uma equipa espanhola, o Desportivo Alcântara, com o consentimento da Direção da altura, e realizaram-se vários encontros entre os dois conjuntos nos anos seguintes. As relações ficaram tão solidificadas que, em 1979, vieram inaugurar o Campo do Ventoso.

Em 1983, quando já estava no Estreito, foi-me solicitado se queria colaborar com a Direção do Clube. Foi aí o primeiro contacto oficial com o mundo do dirigismo desportivo. A primeira função foi como Presidente do Conselho Fiscal e, no ano seguinte, passei a Secretário-Geral.

AFCB: Em que ano entra para a presidência do GD Águias do Moradal?

AA: Em 1986-87, estava como Secretário-Geral e, numa reunião, foi-me solicitado que assumisse a Direção do Clube. Estava a começar a minha vida no comércio no Estreito, ainda estava solteiro e acabei por aceitar. Na altura, os mandatos eram apenas de um ano e, quando já estava na presidência, decidimos alterar para dois anos. E é isso que ainda hoje se mantêm. E já lá vão mais de 30 anos.

AFCB: Quando entrou no Clube, como era o Futebol Distrital na região?

AA: Havia muito mais equipas. Chegámos a ter um Campeonato Distrital com duas divisões, com 26 Clubes. E, quando entro ou no ano anterior, não sei precisar bem, o GD Águias do Moradal é Campeão Distrital da II Divisão, com cinco equipas. Estamos no Campeonato Distrital desde 1986, fora as épocas em que participámos nos Campeonatos Nacionais, que aconteceu por cinco ocasiões.

Em 1990, com os incêndios, o interior do país e o concelho levou uma volta muito grande, principalmente na densidade populacional. E, com isso, tentámos de outras formas manter este Clube de pé, o que não era fácil. Na altura, o GD Águias do Moradal só possuía jogadores da freguesia. Só nos anos 90 é que começámos a recrutar fora, já na minha presidência. As pessoas começaram a sair e o Estreito ficou com poucos recursos humanos para a prática do Futebol.

AFCB: O que o levou a entrar no mundo do associativismo? Qual foi a sua motivação?

AA: A minha motivação é o amor à terra e o gosto pelo Futebol. Nós próprios, Diretores, sentíamo-nos apoiados a continuar, porque as pessoas gostavam de Desporto. Atualmente, já é diferente. Fazemos Assembleias-Gerais e há sempre pouca gente. Tem de ser a Direção a arranjar soluções para a estrutura. Pessoalmente, nessa altura, o que me motivou mesmo foi o gosto pelo Desporto e o amor pela aldeia. No meu tempo, éramos muitos e todos jogavam Futebol. O GD Águias do Moradal até podia formar duas ou três equipas, uma vez que havia cá mesmo muita gente. E, desde miúdo, que sentia um gosto pelo Desporto e pelo Futebol.

AFCB: Quais as principais diferenças entre a altura em que entrou e o presente?

AA: A evolução é notória. Nessa altura, como Presidente, tinha de fazer de tudo – roupeiro, apanha-bolas, massagista. Tive de fazer tudo. Atualmente, já não o faço, porque há outros métodos e outras pessoas. O corpo técnico de uma equipa de Futebol já exige outro profissionalismo. Naquela altura, o Presidente servia para tudo.

Na questão da evolução do Futebol, é evidente e é a nível nacional. Comparar o Desporto antigamente com o atual, é como falar da noite para o dia. Por exemplo, antes, os holofotes do Campo do Ventoso estavam nos fixados nos pinheiros, não havia qualquer estrutura.  Os primeiros balneários do Clube eram muito diferentes do atuais. Lembro-me de estar a fazer uma ficha de jogo à mão e cair-me água em cima e ter de fazer tudo novamente. Atualmente, já está tudo digitalizado e preparado previamente.

O gosto de dirigir este Clube é saber de como as pessoas gostam de Futebol e conseguir ter estas instalações e o relvado sintético – fruto da minha persistência, com muito apoio da Autarquia, das Juntas de Freguesia e dos vários elementos que passaram pela Direção. O GD Águias do Moradal existe atualmente, porque tivemos muita persistência e sabíamos que isto era para andar. Lentamente, mas tinha de andar. E é isso que nos deixa honrados.