Joaquim Vieira, conhecido apenas como Vieira no mundo do Futebol, nasceu na zona de Lisboa, mas foi no distrito de Castelo Branco que passou mais anos da carreira e fez vida após pendurar as chuteiras.
Fez treinos de captação no SL Benfica, mas foi no Sporting CP que realizou a formação. Representou o Atlético CP e o Amora na I Divisão e conta com diversas subidas de divisão no currículo.
No nosso distrito atuou no Benfica e Castelo Branco, no CD Alcains, na ADC Proença-a-Nova, no Salgueiro do Campo e no Pedrógão São Pedro. Pendurou as chuteiras com 42 anos.
Um dos nomes fortes do Futebol no distrito, a AFCB esteve à conversa com Vieira, ficando a conhecer melhor as suas escolhas, as experiências nos diversos clubes e o amor por Castelo Branco.
AFCB: Como foi a infância? O gosto pelo Futebol surgiu cedo?
JV: O gosto pelo Futebol surgiu cedo, porque sou de um bairro em que saíram muitos jogadores para o Futebol profissional – Olivais -, como Peixoto, Amílcar ou o Hélder. Tudo rapazes do meu tempo e que seguiram o seu destino – passaram por clubes como o SL Benfica, Vitória SC ou Portimonense. É um bairro em que nasceram muitos jogadores para o Futebol profissional e continuam a nascer lá prodígios e jovens que gostam de Futebol. E foi assim que comecei.
AFCB: Na altura, jogavas só com os amigos na rua? Quando é que decidiste inscrever-te num clube?
JV: Jogava nos torneios populares, com 15 e 16 anos, com jogadores muito mais velhos. Antigamente, era Futebol de Salão e, naqueles torneios de verão, tínhamos uma superequipa. Eram competições espetaculares e que levavam centenas de pessoas aos pavilhões.
Mais tarde, com 15 anos, decidi ir treinar ao SL Benfica. Fiz lá treinos de captação, com um amigo meu de infância. O Artur Santos era o treinador de prospeção e, passados 20 minutos de treino, mandou-me embora e disse para passar na secretaria e levar os papéis para o meu pai assinar e poder jogar. O amigo que me acompanhou também foi escolhido, mas como era um rapaz já com uma certa vivência e de famílias humildes, fomos tomar banho mais cedo e viu, no balneário, vários ténis de marca. Ele agarrou em meia dúzia de sapatilhas, meteu num saco e fomos embora. Nunca mais apareci no SL Benfica, por vergonha.
Cerca de 15 dias mais tarde, fui treinar ao Sporting CP. Fiz um treino de captação e deram-me logo os papéis. Os meus pais assinaram, entreguei na secretaria e, a partir daí, fui jogador do Sporting CP, nos escalões de Juvenis e Juniores. Fui à Seleção de Juniores e, naquela altura, havia o Campeonato de Reservas, da AF Lisboa, em que tínhamos grandes equipas, como o Atlético CP, Estrela da Amadora, SL Benfica, Sporting CP, Belenenses, Torreense… Alguns dos atletas Juniores eram chamados à primeira categoria. Quem jogava nos reserva, era considerado de primeira categoria. Alguns jogadores eram chamados e jogávamos pelos reserva e acompanhávamos os seniores também a alguma festa que o clube fosse convidado.
Representar o Sporting CP, um clube que gosto e tenho no coração, em que aprendi a ser jogador de futebol e a fazer-me homem, foi uma sensação incrível.
AFCB: Fazes toda a formação no Sporting CP. Acreditavas que podias ficar no plantel principal?
JV: Naquela altura era extremamente difícil ficar no plantel sénior. Havia muita qualidade, como Yazalde, Marinho, Peres, Dinis, Nelson, Damas… O Sporting CP tinha uma equipa espetacular. Tínhamos de ser grandes jogadores para conseguir ficar no plantel. Era difícil e foi melhor ir para o Atlético, rodar e jogar na I Divisão.
AFCB: Antes do Atlético, ainda tens uma passagem pelo CD Cova Piedade, na II Divisão. Aceitaste bem essa mudança? Como foi a experiência?
JV: Fui emprestado ao CD Cova Piedade, voltei ao Sporting CP e fui, novamente, cedido ao Atlético CP. Tive convites do GD Chaves e do Sporting Braga, mas como era um miúdo habituado aos pais e aos Olivais, nunca quis ir para longe. Se calhar podia ter arriscado mais um bocadinho, mas optei por ficar perto de casa.
Em relação ao CD Cova Piedade, aceitei bem a mudança. Foi uma boa experiência, tínhamos uma excelente equipa e foi um ano de aprendizagem. Foi uma vivência diferente, o clube não tinha a dimensão do Sporting CP, mas recebia e tratava bem os jogadores. Fiz uma época excecional e o treinador na altura, Vieira da Silva, quis levar-me para a CUF, que estava na I Divisão. Ainda assim, acabei por ir para o Atlético.
AFCB: Na temporada seguinte, rumas ao Atlético CP, que estava no principal escalão do futebol português. Correu bem?
JV: Foi muito difícil. Havia jogadores com muita qualidade e eu ainda era um jovem. Fomos três jogadores dos “Leões” para lá e foi uma boa experiência. Aprendi mais em termos de competitividade, numa I Divisão com bons jogadores. Fiz o meu percurso e posso dizer que valeu a pena e que adquiri muitos conhecimentos.
AFCB: Em 1975-76, vais para o SL Olivais, da III Divisão, em que consegues alguma estabilidade e permaneces quatro épocas. Como foi essa passagem pelo clube?
JV: Já estava desvinculado ao Sporting CP e fui para o meu SL Olivais. Um clube com boas condições, perto de casa, fiz boas épocas e estivemos perto de subir à II Divisão. E foi nesse contexto que apareceu o Amora.
AFCB: Exatamente. Em 1979-80, surge o Amora, da II Divisão. Voltas a subir um patamar no futebol português. Como foi a mudança e a adaptação?
JV: Foi espetacular, é um clube que tenho no meu coração. Fomos Campeões Nacionais da II Divisão e, ao fim de 40 anos, tive o prazer de me convidarem e a todos os meus colegas para uma grande homenagem, num dia de jogo, na Medideira. Na primeira época, somos Campeões Nacionais da II Divisão e, na seguinte, disputamos a I Divisão. No final da segunda temporada, surge o convite do Benfica e Castelo Branco.
AFCB: Essa segunda experiência na I Divisão, após a passagem com o Atlético CP, já foi diferente?
JV: Tivemos muitas dificuldades, o clube estava com problemas financeiros e havia poucas condições. O Amora tinha uma equipa recheada de grandes nomes e, por isso, manteve-se duas épocas na I Divisão e até chegámos a ganhar ao Sporting CP.
AFCB: Duas temporadas no conjunto de Setúbal e, em 1981-82, tens a primeira experiência no nosso distrito, no Benfica e Castelo Branco. Como surgiu o convite e como foi a experiência?
JV: O convite surge por intermédio do treinador Jacinto Marques, que é da Cova Piedade, e levou-me para o Benfica e Castelo Branco. Só conhecia a cidade de passagem, uma vez que fui jogar à Covilhã, pelo Amora, e jantámos em Castelo Branco.
Aceitei o convite, estive três épocas, mas infelizmente, também começou a correr mal, porque os clubes têm muitas dificuldades financeiras e a minha última temporada foi muito difícil. Casei na segunda temporada e, na seguinte, já tinha o meu filho, que era pequenino. Era profissional, tinha uma mulher e um filho para sustentar e, após três grandes épocas, surgiu o convite do U. Almeirim.
AFCB: Após três épocas em Castelo Branco, sais do distrito e passas pelo U. Almeirim, Santa Clara e novamente Amora – uma época em cada. O que te levou a aceitar os desafios desses três clubes?
JV: O Jaime Graça era treinador no Benfica e Castelo Branco, foi convidado para orientar o Almeirim e perguntou se queria ir. Como o clube estava a atravessar uma fase difícil e tinha casa em Lisboa, aceitei o desafio. Entretanto, o Artur Jorge foi para a Seleção Nacional e levou o Jaime Graça como adjunto. O Fernando Casaca, também de Setúbal, assumiu o Almeirim, fiz uma grande época e subimos à II Divisão, juntamente com o U. Santarém. Na época seguinte, o Fernando Casaca tem um convite do Santa Clara, fala comigo e, como as condições eram fora do normal, vou eu e mais dois jogadores do U. Almeirim para os Açores.
Infelizmente, sofri uma lesão grave – parti o perónio. Estive cerca de três meses parado e, mais tarde, voltei a jogar. Estive para ficar no Santa Clara, mas por questões familiares, regressei ao Amora. Fiz, infelizmente, uma má escolha. O clube estava numa fase muito negativa e estive cerca seis meses sem jogar, porque não podia sair a meio da época.