João Diogo Rodrigues, conhecido como Kikas no Futebol, é um dos últimos talentos do distrito que atingiu os patamares profissionais como jogador. Atualmente, representa o Estrela Amadora SAD e está focado em realizar mais uma boa época no principal escalão do futebol português.
Com 25 anos, o albicastrense já atuou como sénior no Sport Benfica e Castelo Branco, B-SAD, Vilafranquense, CD Mafra, União de Leiria e DOXA, do Chipre, antes de chegar à Reboleira.
No período de formação, o avançado destacou-se pela veia goleadora, o que lhe valeu uma temporada no Sporting Clube Portugal, em Infantil, e mais tarde, em Juvenil, voltou a deixar a sua cidade natal, desta feita para representar o Vitória Sport Clube – no qual concluiu a o período de formação.
Nesta segunda parte da conversa com a AFCB, Kikas fala dos momentos mais marcantes na I Liga, da experiência no Chipre e dos objetivos que ainda tem por atingir no Futebol.
AFCB: Então em 2018-2019, mudaste para Belém e divides a época entre a equipa Sub-23 e o plantel principal. Sentiste dificuldade na adaptação à nova realidade competitiva?
K: Como o meu pai é de Lisboa, tenho cá família e a minha madrinha ajudou-me muito no meu primeiro ano. Em termos profissionais, assino o meu primeiro contrato e estava habituado a um futebol mais direto e é completamente diferente. Foi um bocado difícil adaptar-me. Estava habituado a jogar com eles na playstation e estar ali a conviver e a jogar com e contra eles… Mas foi uma excelente época - ficámos em 8º lugar.
Fui-me adaptando com o tempo e correu bem – não estava à espera de uma temporada tão boa no meu segundo ano de sénior e no primeiro no futebol profissional. Fiz seis golos e foi uma boa época para mim.
AFCB: Como foi o impacto de chegar a um balneário de I Liga tão novo?
K: Cheguei um pouco tímido, mas fui ganhando confiança – sempre a respeitar os mais velhos – e tínhamos um grupo bom, que me acolheu muito bem e ainda mantenho contacto com muitos deles.
AFCB: A verdade é que foi uma época muito boa, como já referiste (17J e 6G), em que marcaste ao SL Benfica e Sp. Braga, no Estádio da Luz e na Pedreira. Para um “miúdo”, que estava a viver a sua época de estreia no principal escalão, como é que lidaste com estas emoções todas?
K: Estreei-me ainda em agosto e até janeiro fui entrando, mas também jogava nos Sub-23. Em janeiro, tivemos alguns lesionados e o mister Silas apostou em mim e fiz o meu primeiro golo em Braga. A partir daí, marquei três jogos seguidos – Braga, Benfica e duas vezes ao Feirense. Foi uma temporada que não esqueço.
Ir ao Estádio da Luz, completamente cheio… Foi uma semana difícil para mim, porque estava nervoso, sabia que ia ser titular. Nunca tinha pisado do relvado do Estádio da Luz e fazer o golo do empate, foi um dia memorável.
Já em Braga tive dificuldade em dormir, não acreditava que tinha feito o meu primeiro golo na I Liga. E quando vamos jogar contra o SL Benfica, também marco, aí não dormi mesmo nada. Foi uma noite especial, tinha na bancada o meu pai e o meu avô, que são benfiquistas, mas vibraram muito com o meu golo.
AFCB: Vejo que tens uma grande ligação à família. Acreditas que o apoio familiar é importante para um jogador demonstrar todo o seu potencial em campo?
K: Sim, claro. O facto de já ser pai também me mudou muito. Se tiveres aqueles amas a apoiar-te, nos bons e maus momentos, é a melhor coisa do mundo.
AFCB: Na época seguinte, não tens a continuidade que ambicionavas – voltas a dividir sub-23 e seniores. Por que razão achas que isso não aconteceu?
K: O meu segundo ano foi um bocado difícil. Estive no B-SAD até janeiro e, na segunda metade, o mister Silas foi embora e o Petit não contava comigo, então fui para o Vilafranquense, na II Liga, em que fui um bocado infeliz. O país parou devido ao Covid-19 e fiz poucos jogos. Foi uma época má, fiz poucos golos e jogos e não consegui dar a continuidade que desejava. O Futebol é assim, mas não desisti e consegui ultrapassar isso.
AFCB: Em 2020-2021, voltas a não ficar no B-SAD e és emprestado ao DOXA, do Chipre. Trata-se da primeira experiência no estrangeiro. Como surgiu a oportunidade e que realidade e dificuldades encontraste?
K: Sabia que o mister Petit não contava comigo, surgiu a oportunidade de ir para o estrangeiro e, depois de falar com a minha família, decidi aceitar. Sabia que ia ser difícil, que não os ia ter por perto, mas era o meu sonho. Fui muito bem recebido, tinha portugueses na minha equipa e, como é um país muito acolhedor, havia mais portugueses e brasileiros noutras equipas, com quem fiz amizade.
Estávamos todos longe da família, numa fase de Covid-19, não podíamos quase sair de casa, foi muito complicado. Juntávamo-nos todos, erámos como uma família e isso ajudou muito.
Em termos desportivos, foi uma época boa. Não comecei logo como titular, mas a meio da primeira volta agarrei o lugar e fiz cerca de sete golos e uma temporada bastante positiva.
AFCB: Se no futuro surgir a oportunidade de voltares a jogar no estrangeiro, vês isso com bons olhos?
K: Sim, claro. Quero proporcionar uma boa vida à minha família, após deixar de jogar de futebol, e se surgir uma proposta que me agrade, claro que não digo que não a ir para o estrangeiro.
AFCB: Na temporada posterior, novos empréstimos – metade da época no CD Mafra e a outra metade no U. Leiria. Como foram essas duas experiências?
K: Decidi voltar a Portugal, até porque o meu filho tinha nascido e queria estar perto. Apareceu a possibilidade de ir para o CD Mafra, mas não correu como esperado. Não estava contente, estava a jogar pouco e, em janeiro, surgiu a União de Leiria. Não conseguimos atingir o objetivo da subida, fiz alguns jogos, mas infelizmente, em termos individuais, fiz poucos golos.
AFCB: Em 2022-2023, permaneces no B-SAD e mostras números bastante interessantes na II Liga (25J, 9G e 2A). Esse desempenho chama também a atenção do Estrela Amadora, também da II Liga, que estava a lutar por subir. Esperavas essa mudança?
K: Era o meu último ano de contrato no B-SAD e disse que queria cumprir. Tínhamos uma equipa jovem, mas já nos conhecíamos muito bem e tínhamos um bom grupo. Até janeiro consegui fazer golos, que é o que mais gosto, e apareceu o Estrela Amadora. Já tinha jogado contra eles, sabia que estavam a lutar para subir e o meu empresário, Júlio Aguiar, falou dessa hipótese, acabei por ir e ainda ajudei o Estrela Amadora na luta pela subida de divisão.
AFCB: Exatamente. Atingem a promoção à I Liga, após muitos anos de ausência, acabas o contrato com a B-SAD e ficas, em definitivo, no Estrela Amadora. Era esse o teu objetivo?
K: Em janeiro, tive a proposta já muito perto do final do mercado. Sou sincero, não estava à espera de sair do B-SAD naquela altura, mas quis dar um passo em frente na minha carreira. No final da época, convidaram-me para assinar em definitivo, por duas temporadas, e assim foi. Estou no meu último ano de contrato.
AFCB: Como foi o regresso ao principal escalão do futebol português? Marcaste o golo decisivo, que garantiu a manutenção…
K: Foi uma época positiva, coletiva e individualmente. Tínhamos um grupo muito forte e com muitos elementos experientes – António Filipe, Miguel Lopes, João Reis – e que sabem o que é o futebol português. Saíram poucos jogadores e erámos muito coesos e todos podiam jogar.
Os meus colegas tiveram algumas lesões, fui agarrando o meu lugar e fiz nove golos. Foi uma temporada muito boa, com o golo decisivo que garantiu a manutenção. Um dia que, seguramente, não vou esquecer, até porque tinha a minha família no estádio.
AFCB: O futuro para a nova época é na Reboleira? Quais os objetivos pessoais para a temporada?
K: O futuro é na Reboleira. Quero fazer melhor que na época passada. Se fiz nove golos, na próxima temporada, quero marcar dez ou mais e ajudar a equipa. Não tenho uma meta. Quero ajudar o clube a garantir a manutenção e, em termos pessoais, fazer o maior número de jogos, tal como na última época.
AFCB: Na tua opinião, que características – físicas, psicológicas – necessitam os jovens para vingar no mundo do Futebol?
K: Com 13/14 anos já dizia que queria ser jogador de futebol e trabalhava para mim. Comecei a fazer ginásio. Sei que os jovens, atualmente, já trabalham até com personal trainers, o que é bom. Se querem chegar ao futebol profissional, têm de trabalhar muito para colher os frutos.
AFCB: Sentes-te uma referência no nosso distrito para os mais novos?
K: Sim, sinto-me uma referência. Quando vou a Castelo Branco, os mais novos já me reconhecem. Tal como também considero que o João Afonso é uma referência. Demonstrámos que também há qualidade em Castelo Branco e, se calhar, muita gente não olha com a devida atenção. Sei que há muitos jovens com qualidade – como o Miguel Galeano, que está na Académica de Coimbra. Se realmente quiserem, é continuar a trabalhar.
AFCB: Que objetivos ainda tens por cumprir no futebol?
K: Ainda tenho muitos, só tenho 25 anos. Gostava de experimentar mais uma aventura no estrangeiro e tenho o sonho de jogar na Liga dos Campeões. Sei que é difícil, mas com trabalho, acredito que vou conseguir.
AFCB: Gostavas de jogar até que idade? Tens algum número na cabeça?
K: Gostava de jogar até o meu corpo me permitir. Sei que o meu pai acabou aos 38 ou 39 anos, acho que o quero ultrapassar (risos).
AFCB: Que mensagem gostavas de deixar aos jovens futebolistas do nosso distrito que, como tu, ambicionam ser profissionais?
K: Nas férias, estive em Castelo Branco, convidaram-me a ir ao Valongo e falei com os mais novos. O importante é não desistir dos sonhos e continuar a trabalhar. É difícil, mas com dedicação e empenho, têm de acreditar que vão chegar lá. E também têm de ter cabeça. Nunca fui muito de ir a festas e quando me convidavam recusava, porque preferia ficar em casa a descansar para o jogo do dia seguinte. Meti isso na minha cabeça: se queria ser jogador de futebol, tinha de abdicar disso e focar nos meus objetivos, durante o ano, e aproveitar mais no verão.