Adriano Castanheira é jogador de futebol e, atualmente, está no FC Arat, na Arménia. Nascido na Suíça, mas desde muito novo na Covilhã, passou pela formação do FC Porto e Nacional da Madeira, tendo já representado o “clube da sua terra”, o Sporting Clube da Covilhã.

 O avançado, com 31 anos, já atutou na I e II Liga Nacionais, tendo embarcado esta temporada na primeira aventura no estrangeiro, onde já conquistou a Taça da Arménia e ainda está a lutar pelo título.

No currículo, além das duas passagens pelo Sporting Covilhã, representou o Benfica e Castelo Branco, União Leiria, FC Paços de Ferreira, GD Chaves e FC Penafiel.

Uma carreira com muitas mudanças e alguma instabilidade que, até o próprio reconhece, não foram benéficas para demonstrar o seu valor.

Nesta segunda parte da conversa com a AFCB, o avançado assume que “merecia ter ficado no FC Paços de Ferreira” e desvenda alguns dos planos para o futuro pós-futebol.

AFCB: Tal como referes, em 2017/18, regressas ao Sporting Covilhã e à II Liga para te afirmares em definitivo. Foram duas grandes épocas…

AC: Foi uma época e meia. Podia ter ficado no Leiria, mas após três anos no Campeonato de Portugal, achei que era bom voltar a uma II Liga e tentar afirmar-me a sério. Na altura, tinha 24 anos e só cheguei à I Liga com 26 anos. Há pessoas que pensam que é tarde, mas, mesmo com altos e baixos, se acreditares sempre em ti e trabalhares sempre ao máximo, é um fator muito importante. Quando voltei para o Sporting Covilhã foquei-me muito nisso. Ou era naquela altura ou, possivelmente, não era nunca mais.

De forma natural, as coisas foram surgindo, os golos foram aparecendo e, felizmente, correu às mil maravilhas.

AFCB: Correu tão bem que, em 2019/2020, dás o salto para o principal patamar do futebol português, através do Paços de Ferreira. Quais as principais dificuldades que sentiste em Paços de Ferreira? E quais as principais diferenças para a II Liga?

AC: Em Paços de Ferreira, encontrei um dos melhores balneários a nível de pessoas. No aspeto futebolístico, considero que na I Liga tens mais espaço, mas acaba por ser muito mais intenso. Ao longo dos anos, a II Liga tem evoluído, mas os campos são mais pequenos e os jogos mais físicos. Na I Liga, tens mais espaço e consegues mostrar mais a tua criatividade.

Nessa meia época, de janeiro a junho, foi a altura do Covid, mas foi uma estreia muito boa. Quando cheguei, a equipa estava em penúltimo lugar e acabámos por ficar em 12º lugar e garantir a manutenção. Acabou por ser muito bom. O que queria era chegar à I Liga, jogar e tentar mostrar o meu valor – fiz um ou dois golos e duas ou três assistências. O Covid quebrou um pouco o ritmo e também me lesionei, mas com a paragem, o Campeonato prolongou-se e, nessa altura, já estava recuperado.

AFCB: Em 2021/22, és emprestado ao GD Chaves, que estava na II Liga e subiu de divisão. O que levou a essa mudança?

AC: Fiz a pré-época no FC Paços de Ferreira e, sinceramente, sinto que merecia ficar no clube, mas na altura, decidiram emprestar-me. Foi tudo muito rápido, surgiu a hipótese do GD Chaves e como tinha um projeto de subida, acabei por optar por ir para Chaves.

AFCB: A época em Chaves também é positiva, em termos individuais e coletivos. No final dessa época, querias voltar à I Liga?

AC: O objetivo era voltar à I Liga, mas vou ser sincero. A primeira fase em Chaves correu muito bem, mas a partir de janeiro/fevereiro, deixei de jogar e, quando acabas a temporada sem jogar, prejudica um pouco. Na altura também ia-me casar e queria ir de lua-de-mel com as coisas resolvidas. Voltava a 22 de junho, perto do início da época, e não queria esperar. Antes do casamento apareceu a proposta do FC Penafiel, com um treinador com quem já tinha trabalhado no Sporting Covilhã, e aceitei. Podia ter esperado, mas também podia não ter surgido nada ou até podia aparecer algo melhor. Decidi arriscar.

AFCB: Passaste por vários clubes durante a tua carreira. Sentes que, caso tivesses mais estabilidade, podias ter mostrado mais o teu valor?

AC: A altura do GD Chaves e FC Penafiel foi um bocado complicada para mim, a nível futebolístico e mental. Também tenho a minha mea-culpa, mas se tivesse tido uma oportunidade em que coisas corressem bem, é o suficiente para dares um salto maior. A vida é mesmo assim, temos de nos agarrar ao que temos e lutar por isso.

Sem dúvida que, caso tivesse mais estabilidade, as coisas poderiam ter sido diferentes. A vida é mesmo assim.

AFCB: Esta época arriscas emigrar e ter a primeira experiência no estrangeiro, na Arménia. O que te levou a aceitar esse desafio?

AC: Quando chegou a proposta, recolhi informações do clube e do país e acabei por receber boas indicações. Até podia aparecer outra coisa, mas o clube ia começar nas eliminatórias da Conference League e vi com bons olhos uma experiência num país diferente, numa cultura e clube diferentes. Por vezes é necessário sair da zona de conforto e também acreditei no projeto. O clube é bom, luta por ser campeão, ganhámos a Taça – algo inédito. A barreira linguística é o mais complicado, porque o armeno é muito difícil. Se houvesse uma palavra parecida ao inglês, mas é completamente diferente. Falamos inglês e dá para entender. Temos três brasileiros, o que facilita a comunicação, dentro e fora de campo.

AFCB: A época está a correr bem. Tens números bastante interessantes (30J, 4G e 2 A) e já ganhaste um título. A ideia é continuar na Arménia ou voltar ao futebol português?

AC: Ainda está tudo muito incerto. Assinei por uma época, com outra de opção. Não te consigo responder muito bem a essa pergunta, porque ainda faltam três jogos. É tudo muito incerto. Posso continuar, mas também se surgir uma proposta melhor para outro país, posso ponderar. Portugal é sempre uma hipótese. Tenho de ver bem.

AFCB: Que objetivos ainda tens por cumprir no futebol?

AC: Gostava de voltar a uma I Liga, mas sendo realista, acho difícil. Um dos sonhos que sempre tive era ajudar o Sporting Covilhã a subir à I Liga. Vamos ver se um dia posso voltar e ajudar o clube a subir de Divisão. É um sonho e tivemos perto de o concretizar. Também tenho o objetivo de disputar uma Fase de Grupos de uma competição europeia, apesar de já ter jogado nas eliminatórias da Conference League.

AFCB: Tens uma idade na tua cabeça até à qual gostavas de jogar?

AC: Vejo-me a jogar até aos 45, 46 ou 47 anos, não sei (risos). O futebol sempre foi tudo para mim e se fosse uma profissão que desse para jogar até aos 65 anos e reformar, era isso que fazia. Mas, pelo menos, até aos 39-40 anos. Não é uma coisa que tenha pensado muito. Espero que o meu corpo me permita ir até essa idade.

AFCB: Como é o Adriano Castanheira fora de campo? És licenciado em Sociologia. Já pensaste na etapa pós-futebol?

AC: Licenciei-me em Sociologia, mas depois comecei a tirar um mestrado em Desporto, na UBI, mas fiz meio ano e tive de congelar a matrícula, porque apareceu a proposta do Paços de Ferreira. E é algo que quero terminar. No futuro, gostava de ficar ligado ao mundo do futebol, mas não como treinador, acho que não tenho esse perfil. Talvez como adjunto ou preparador físico. Também gostava de abrir um negócio com a minha mulher.

Fora do futebol, sou uma pessoa muito tranquila. Gosto de ir ao cinema, ouvir música e jogar playstation – apesar da minha mulher me dar muito na cabeça (risos). Gosto de ler, passear e viajar também. Infelizmente não consigo trazer o meu cão para cá, é algo que me faz muita falta cá, porque adoro passear com ele.

AFCB: Na tua opinião, que características – físicas e psicológicas – necessitam os jovens para vingar no mundo do futebol?

AC: Atualmente, o jogo está muito tático e físico. Acredito muito que os jovens devem aproveitar as infra-estruturas do clube. Se têm um ginásio para fazer um trabalho extra, é algo que vai ajudar bastante. Acho que os jovens devem ter preocupação com o nível físico.

Psicologicamente, é preciso acreditar em ti e que és capaz, independentemente de outras vozes. É muito importante acreditares em ti, no teu valor, nunca duvidares e acredito muito na palavra trabalho. Se trabalhares muito, ao longo dos anos, estás mais perto de chegar ao teu melhor nível.

AFCB: Sentes que podes ser uma referência no nosso distrito para os mais novos?

AC: Acho que sim. Apesar de estar mais longe da Covilhã, mas quando estava aí, as pessoas olhavam muito para mim e tentei ser sempre um bom modelo. É muito importante termos equipas do interior nos Campeonatos Nacionais, porque dá mais visibilidade e as pessoas olham para o clube de outra maneira. O facto de haver pessoas no futebol e noutras modalidades que singraram, é muito importante para os jovens acreditarem que é possível chegar a outros patamares. Gosto de passar essa imagem para os mais novos. Se trabalhares sempre no máximo, as coisas aparecem, de forma natural.

AFCB: Que mensagem gostavas de deixar aos jovens futebolistas do nosso distrito que, como tu, ambicionam ser profissionais?

AC: Trabalharem e lutarem sempre, em cada treino, em cada jogo, mesmo quando há adversidades. Nunca desistam, trabalhem sempre ao máximo. Procurem sempre ser vocês próprios e se evoluirem, como pessoa e jogador, estão mais perto de chegar a outros patamares. Revejo-me um pouco nisso. Andei sempre na zona interior e só cheguei à I Liga com 26 anos e não foi por isso que desisti. Acreditem sempre, lutando todos os dias.