O Conselho de Arbitragem da Associação de Futebol de Castelo Branco vai organizar, a partir de 26 de outubro, mais um Curso de Árbitros de Futebol e Futsal, tendo em vista a temporada 2024/2025.

As inscrições estão abertas até ao próximo dia 23 de outubro, quarta-feira, e a AFCB foi conhecer melhor os rostos femininos que compõe o lote de Árbitros e perceber as razões e a motivação que as levou a ingressar no mundo da arbitragem.

Os Quadros Distritais contam com quatro juízas, neste momento. Filipa Carrondo e Lua Afonso estão ligadas ao Futebol, enquanto Maria Rita Mendes e Mafalda Correia abraçaram a carreira no Futsal.

O gosto pela arbitragem nasceu cedo. Maria Rita Mendes e Lua Afonso, com 15 e 16 anos, tiram o Curso de Árbitro com 14 anos, tendo iniciado o percurso uns meses mais tarde. Mafalda Correia, de 17 anos, começou um pouco mais tarde, formando-se com 16 anos e, apesar de ter ainda pouca experiência, já participou em alguns encontros como cronometrista.

Filipa Carrondo é a mais velha e aventurou-se com uma idade mais avançada. Com 31 anos, a juíza tirou a especialidade em 2021 na Associação de Futebol da Guarda, no distrito em que vivia na altura. Mais tarde, mudou-se para a Covilhã e passou a pertencer ao Conselho de Arbitragem da AFCB.

As razões que as levaram a optar por uma carreira na arbitragem são distintas, embora haja quem já tivesse esse exemplo em casa.

Lua Afonso é filha de Romeu Afonso, antigo Árbitro de Futsal nos Campeonatos Nacionais e atual Observador da Federação Portuguesa de Futebol (FPF). Ainda assim, a paixão sempre foi o Futebol e “mal tive oportunidade, tirei o Curso para experimentar e acabei por ficar”.

“Ver o meu pai, todos os fins de semana, a ir para os jogos, sempre me chamou a atenção e deixou o bichinho dentro de mim”, confessa.

Maria Rita Mendes também viu, desde cedo, o seu progenitor envolvido na arbitragem. Filha de Sérgio Mendes, antigo Árbitro de Futsal da AFCB e atual dirigente da APAF, admite que, apesar de tudo, só mais tarde despertou para este mundo.

“Nunca tive interesse em envergar pela arbitragem. Só mais tarde, quando fiz uma entrevista aos árbitros Carlos Xistra e António Nabinho é que despertou uma curiosidade extra e decidi ingressar no curso e ver no que daria. E até agora não me arrependo, estou a gostar muito”, afirma.

Filipa Carrondo revela ser uma “romântica do Futebol” e que sempre sentiu uma enorme vontade de “fazer parte do jogo”, mas não como jogadora.

“Sentia que queria pertencer ao jogo, mas não era definitivamente como jogadora. Era, também, muito pela minha visão. O Futebol é uma coisa muito bonita e, nos últimos anos, tem-se tornado um negócio, mas sou mais romântica e vejo-o como algo tão bonito (…) Os jogadores estão ali mais pela fama e pelo dinheiro, mas os árbitros não. Estamos ali para fazer cumprir as regras e tornar o Futebol bonito. Sempre foi isso que quis fazer e tento fazer quando entro em campo”, assume.

Mafalda Correia teve uma passagem pelo Futsal como jogadora, mas teve de parar precocemente. Como não queria ficar longe da sua modalidade de eleição, decidiu arriscar e tirar o Curso. “Não sabia bem como era, decidi experimentar e, entretanto, já fui tendo algumas experiências”, explica.

O lado mais negativo da arbitragem são os insultos vindos das bancadas. As nossas juízas revelam que sabem lidar bem com isso e que, com o jogo, o foco é total no que se está a passar em campo.

“O nosso objetivo é ser o mais discreto possível, mas por vezes, até pelo clima envolvente, é pouco difícil. Errando ou acertando, vai sempre haver alguém que contesta a decisão. Temos de pensar em acertar o máximo possível e estar de consciência tranquila com as nossas decisões”, refere Lua Afonso.

Filipa Carrondo admite que “não sabia com ia lidar”, mas que em campo, a concentração está toda na partida. “A partir do momento em que entramos em campo, até podemos ouvir alguma coisa quando o jogo está parado, mas chega a uma altura em que a bancada é a menor das nossas preocupações”.

Apesar de ainda contarem com poucos anos de carreira, já houve alguns momentos e experiências marcantes, como o “primeiro jogo e o impacto de entrar, pela primeira vez, em campo”, como revela Filipa Carrondo. Já Lua Afonso afirma que já teve “oportunidades que vão ficar para a vida”.

“Com o Encontro Nacional do Árbitro Jovem e pela APAF, consegui acompanhar a equipa de arbitragem da última final da Taça de Portugal. Foi uma experiência inesquecível, estar no ambiente do Estádio do Jamor, que só via na televisão, e estar dentro de um jogo tão importante e com aquele clima à volta… Aprendi muito com Árbitros de renome internacional e vai ficar para sempre marcado na minha vida”, assegura.

Uma possível entrada nos Quadros Nacional da FPF só pode acontecer a partir dos 18 anos e, como tal, o plano passa por “continuar a evoluir e acumular experiência”. “Neste momento, quero continuar a aprender, tomar as decisões mais rápido, ter confiança em mim mesmo e ser um exemplo, sejam rapazes ou raparigas, que queiram entrar na arbitragem”, refere Maria Rita Mendes.

Todas admitem o “sonho” de se tornar Árbitras profissionais, mas reconhecem as dificuldades para lá chegar. Ainda assim, garantem que pretendem conciliar o lado profissional com a arbitragem.

Quando questionadas sobre se existe alguma diferença entre os homens e as mulheres na arbitragem, as jovens explicam que “ainda existe um pouco esse estigma”.

“Tem vindo a mudar com o tempo e as mulheres têm sido nomeadas para jogos mais importantes do masculino e ainda bem que isso está a acontecer. Ainda há muita gente que não pensa assim, mas estamos cá nós para mudar essa mentalidade”, reforça Lua Afonso.

Já Maria Rita Mendes sublinha que a luta é “mais interior” e com os seus pensamentos. “Sinto que cresço num mundo em que os Árbitros são muito atenciosos e deixam-nos sempre à vontade, até com a questão dos balneários. Os jogadores têm alguma curiosidade, mas eu própria tenho uma luta interior, porque muitas vezes vejo-me no meio disto tudo e penso «será que sou capaz? São todos maiores e mais velhos que eu» e considero que tenho esta luta interior. Quando entro em campo, acalmo, porque me sinto um deles”, revela.

Além do momento competitivo e do jogo, a arbitragem ajuda a crescer e fortalece os laços de companheirismo. Mafalda Correia confessa que sentiu um “grande desenvolvimento intra e inter-pessoal, porque exploramos capacidades que nem sabíamos que tínhamos”.

“Aprendemos a controlar as nossas emoções, a lidar com pessoas mais complicadas, porque nunca sabemos como o outro vai reagir, uma vez que temos de tomar decisões difíceis sob pressão e muitas pessoas não vão concordar, mas isso faz parte do percurso. Ganhamos muita confiança e construir uma base de confiança para não nos deixarmos afetar e ir abaixo com as críticas”, destaca.

Filipa Carrondo aborda a aptidão disciplinar e a capacidade de comunicação. “Temos de chegar aos campos, pelo menos, uma hora antes do início da partida. Isso traz-nos uma grande disciplina. Nunca fui uma pessoa de chegar muito atrasada, mas a nível pessoal, ter aqueles horários para cumprir, ter de interagir com as pessoas e lidar com conflitos, melhora muito a nossa capacidade de comunicação e a nossa rotina de horários”.

A AFCB vai iniciar no próximo dia 26 de outubro mais um Curso de Árbitros de Futebol e Futsal. Desafiadas a deixar uma mensagem de incentivo a quem esteja a pensar inscrever-se, todas realçaram para “não ter receio ou medo, por existirem ainda poucas mulheres” e que “vale muito a pena” ser Árbitro.

“Os nossos colegas da AFCB são das melhores pessoas a acolher, portanto acho que as pessoas não devem ter receio, principalmente as raparigas. Temos ainda poucas, mas não é por isso que não se devem inscrever e tirar o curso. Acho que vale muito a pena (…) Devem começar numa idade mais nova, uma vez que possibilidade de progredir é enorme e chegar aos Quadros Nacionais. Tenho amigos nessa situação e eles conhecem Portugal de uma ponta à outra, interagem com imensas pessoas e enriquece-nos muito. Comecei a fazer isto por diversão e acreditem que nos divertimos muito. É muito gratificante fazer partidas das camadas jovens. É vir sem medo”, concluiu Filipa Carrondo.

As inscrições para o próximo Curso Árbitro Futebol e Futsal da AFCB estão abertas até dia 23 de outubro e podem ser feitas aqui.