Adriano Castanheira é jogador de futebol e, atualmente, está no FC Arat, na Arménia. Nascido na Suíça, mas desde muito novo na Covilhã, passou pela formação do FC Porto e Nacional da Madeira, tendo já representado o “clube da sua terra”, o Sporting Clube da Covilhã.

 O avançado, com 31 anos, já atutou na I e II Liga Nacionais, tendo embarcado esta temporada na primeira aventura no estrangeiro, onde já conquistou a Taça da Arménia.

No currículo, além das duas passagens pelo Sporting Covilhã, representou o Benfica e Castelo Branco, União Leiria, FC Paços de Ferreira, GD Chaves e FC Penafiel.

Adriano Castanheira é licenciado em Sociologia e é o convidado deste mês da nova rúbrica “No Interior do Jogo”.

A AFCB esteve à conversa com o jogador e conheceu o percurso e as escolhas no futebol nacional, abordando a dificuldade de sair de casa aos 16 anos e representar um clube com a dimensão do FC Porto.

AFCB: Como nasceu a ligação e o gosto pelo futebol?

AC: Nasci na Suíça, vivi lá até aos 11 anos e foi lá que tudo começou. Lembro-me do meu pai oferecer-me a primeira bola de futebol e de andar sempre com ela atrás. Na escola, os rapazes só jogavam, praticamente, futebol e não pensávamos noutra coisa. Desde muito novo tomei-lhe o gosto e o meu sonho sempre foi tornar-me jogador profissional. Felizmente, consegui concretizá-lo.

AFCB: Como se dá a passagem de jogar futebol com os amigos para te inscreveres num clube?

AC: Na Suíça já jogava num clube, no Neuchâtel Xamax. Foi algo que surgiu naturalmente. Lembro-me que, na Suíça, ainda experimentei Karaté, mas não gostei muito. Como andava sempre com a bola atrás e, com os amigos, só jogávamos futebol, os meus pais inscreveram-me, naturalmente, num clube. E, a partir daí, foi sempre o meu hobbie principal.

AFCB: Pensavas em seguir uma carreira como jogador profissional? Com que idade começaste a ter esse pensamento?

AC: Foi já em Portugal, na formação do Sporting da Covilhã. Sentia que me conseguia destacar mais que os outros e, nos Sub-13, fui chamado ao escalão acima e fiz golos, o que me deu mais realce. As coisas correram sempre muito bem e fiz muitos golos. Nesta altura comecei a pensar mais seriamente no futebol, apesar de ser tão novo, e quando, com 16 anos, ingresso no FC Porto, pensei que era mesmo a sério.

AFCB: Inicias a formação no Sporting Covilhã e, em Juvenil, mudaste para o FC Porto. É uma grande mudança. Como é que tudo aconteceu e como foi a experiência?

AC: Não foi fácil sair de casa e deixar a família aos 16 anos, mas acho que uma oportunidade tão boa, não podia recusar. O período de adaptação foi mais fácil, porque vivia com outros colegas, mas também ficávamos sozinhos no quarto e pensávamos “o que é que vim fazer? Sou tão novo” … Mas, felizmente, as pessoas da Casa do Dragão ajudaram-me bastante, fui muito bem recebido, tive a sorte de ter colegas de equipa que, atualmente, ainda falo. O ambiente na Casa do Dragão era sempre muito bom.

O facto de jogares num clube como FC Porto, mesmo na formação, acarreta sempre muita responsabilidade e havia muita exigência. O treinador era o Pedro Emanuel e só de olhares e estares com ele, teres um adjunto como o Paulinho Santos … Só o facto de puderes aprender com essas pessoas, percebes que estás noutro nível. Lembro-me que, no final dessa época, fomos Campeões Nacionais Sub-17 e jogámos contra o Sporting CP, em casa, e tínhamos de ganhar. Joguei contra o Eric Dier, João Mário, Ilori, Bruma. Aqueles craques que, atualmente, vemos no patamar do futebol europeu, é uma experiência diferente. É diferente jogares por um clube com esta dimensão. As coisas correram muito bem, foram três anos muito bons e estou muito agradecido.

AFCB: Nessa altura, partilhaste o balneário com algum jogador que esteja num patamar mais elevado?

AC: Da minha equipa, os jogadores que estão ou já estiveram em grande destaque são o Fábio Martins e o Tó Zé, que agora estão na Arábia Saudita, mas já passaram por equipas como FC Porto, Sporting Braga, Vit. Guimarães. O Peta e o Tiago Ferreira não chegaram a jogar na I Liga, mas estão muito bem no futebol.

AFCB: Consideras que a passagem por um clube denominado “grande” na formação ajuda a abrir portas?

AC: Sim, ainda mais com as equipas B, acho que ajuda bastante. Os clubes vão procurar certos jogadores e verem no currículo um FC Porto B, abre portas para muitas equipas e aumenta muito a procura. Mas também há muitos jogadores que não passam por nenhum “grande”, fazem o seu percurso naturalmente, passam por todos os escalões e conseguem chegar ao patamar mais alto, como o Jota Silva, do Vit. Guimarães. Sinceramente acho que ajuda e dá outra visibilidade.

AFCB: Na primeira época de Júnior, és emprestado ao Nacional da Madeira, pelo FCP. Outra mudança significativa e ainda muito novo. Como foi essa experiência?

AC: Felizmente, sou uma pessoa que se adapta bem e um dos meus melhores amigos, o Tiago Bragança, que foi meu companheiro no FC Porto, juntamente com o Tiago Catarino, também foram emprestados ao Nacional da Madeira. O facto de ir com eles ajudou bastante, porque éramos três miúdos que se conheciam bem e toda a adaptação acaba por ser muito mais fácil.

Na escola, como no futebol, as coisas correram bem. Como vínhamos jogar a Lisboa, de duas em duas semanas, e tinha lá família, conseguia estar com os meus pais. Jogávamos sábado, mas não tinha de voltar logo para a Madeira, podia ficar para domingo e dava para passar o fim de semana com eles e isso também ajudava muito durante toda a época.

No geral, gostei muito de passar pela Madeira, foi uma experiência enriquecedora. A ilha é muito bonita, tem qualidade de vida e o clima é muito bom. Felizmente, por todos os locais por onde passei, conheci sempre pessoas que me ajudaram bastante.

AFCB: Na última resposta, abordaste o lado familiar. Tendo saído de casa tão novo, como foi o aspeto familiar? Os teus pais sempre te apoiaram na escolha do futebol?

AC: O meu pai era mais rígido nesse aspeto. Dizia sempre que, se não tivesse boas notas, tirava-me do futebol. Tentei sempre aplicar-me a nível escolar – nunca reprovei de ano – e havia sempre esse cuidado. Os meus pais sempre me apoiaram desde início, sempre acreditaram no meu valor e, mesmo vivendo no Porto, tive a sorte de conseguirem acompanhar-me. Nunca ficava um ou dois meses sem os ver. É sempre difícil deixar a família, mas sentir o apoio deles é muito importante, para lutares por ti, mas também por eles.

Neste aspeto, a minha mulher e os meus sogros também são muito importantes. Sinto o apoio de todos e isso dá-me estabilidade para me focar apenas em jogar futebol.

AFCB: O segundo ano de Júnior é novamente no FCP, mas o primeiro ano de Sénior, regressas ao Sp. Covilhã. Pensavas que ias integrar uma equipa da I Liga? Como foi o processo de transitar da formação para o futebol sénior?

AC: Acabei por não ficar no FC Porto, mas como no último ano de formação não tinha jogado tanto, achei muito difícil ingressar logo numa I Liga. Na altura até pensei dar um passo atrás e ir para um Campeonato de Portugal. Acho que não me fazia mal nenhum e, a partir daí, começar a trilhar o meu caminho aos poucos. Como surgiu a proposta do Sporting Covilhã e é o clube da minha terra, vi com bons olhos essa mudança.

A transição para o futebol sénior não foi tão difícil, porque estava no FC Porto e a exigência era tão grande, que ficas preparado para essa transição. A passagem para Sénior é grande, encontras jogadores com 30 e tal anos e já maduros, mas acho que tive a sorte de, estando no FC Porto, estava mais bem preparado para isso.

A primeira época de sénior foi muito atípica, tive três treinadores e acabou por ser uma temporada muito difícil, mas fez-me crescer como jogador e pessoa.

AFCB: No Sporting da Covilhã, fazes duas boas épocas, na terceira tens menos minutos, e na temporada seguinte acabas por ser emprestado ao Benfica Castelo Branco. Qual foi o objetivo com a mudança para os albicastrenses?

AC: Tive uma época em que estava bem, ia entrando e jogando, mas tive uma pubalgia e isso afetou-me um bocado. Na temporada que vou para Castelo Branco, ainda faço a pré-época com o Sporting Covilhã. E acho que até correu bem, mas em conjunto, decidimos que era melhor ser emprestado e, por mim, não tive qualquer problema. O que queria era jogar mais, evoluir e surgiu a hipótese do Benfica Castelo Branco. Na altura estava na Faculdade e era importante conciliar as duas coisas. Felizmente, foi possível. Tinha aulas de manhã e um pouco à tarde e tinha treinos em Castelo Branco à tarde e voltava para a Covilhã. Vi com bons olhos, porque a ideia era sempre jogar mais.

Nessa época, estivemos muito perto de subir de divisão. Mas, individualmente, a ideia era mesmo dar um passo atrás para tentar dar dois à frente. Em termos de golos, na segunda temporada, acabou por ser a minha melhor marca (10G). Foram dois anos muito positivos, porque cresci bastante como jogador, encontrei pessoas incríveis e com quem mantenho contacto – até vieram ao meu casamento. O clube acolheu-me muito bem e as coisas correram, naturalmente, bem. Em golos e assistências, foram das minhas melhores épocas.

AFCB: Fazes duas grandes temporadas em Castelo Branco e segues para a União de Leiria. Apesar de ser uma equipa do mesmo escalão, as ambições já eram diferentes?

AC: Podia ter ficado no Benfica Castelo Branco, mas decidi arriscar pelo projeto que me mostraram e o treinador Rui Amorim, que me orientou em Castelo Branco, foi preponderante nessa decisão. A ideia era subir e tínhamos um plantel muito bom. Não subimos pela maneira como o Campeonato estava estruturado. Acabámos a Fase Regular em 1º lugar e empatámos dois jogos com o Mafra, nas meias-finais da Fase de Subida, e não subimos pelo golo fora. Estamos uma temporada inteira sem perder nenhum jogo e acabamos por não subir de Divisão. Foi muito difícil gerir isso, mas Deus quis assim. Foi uma altura muito difícil, mas ainda bem que pude voltar ao Sporting Covilhã e voltar a representar o clube da minha terra.