AD Fundão joga sábado em Viseu no arranque do play-off da Liga Placard Futsal. Vitória sobre o Viseu 2001 coloca a formação fundanense com um pé nas meias-finais da competição.

A dois dias do arranque do play-off da Liga Placard Futsal 20/21 a Associação de Futebol de Castelo Branco (AFCB) foi ao Fundão conversar com Nuno Couto (NC), responsável máximo pela equipa da AD Fundão que no passado dia 24 de abril, em Portimão, carimbou a melhor classificação de sempre na primeira fase do patamar mais alto do futsal nacional.

A primeira fase, o jogo com o Viseu 2001, os objetivos da AD Fundão e a realidade atual do futsal português estiveram à mesa numa conversa com os “pés bem assentes na terra” mas com a mente a apontar para as meias-finais.deão, carimbou a melhor csificaçl, em Portim do arranque do Play-off da Liga Placard Futsal 20/21, a AFCB foi ao Fund

 

AFCB - Melhor classificação de sempre na primeira fase em 15 épocas da AD Fundão no escalão máximo do futsal nacional... Obrigação de fazer melhor do que o segundo lugar da época 2013/14 ou responsabilidade de fazer o  melhor possível?

NC - Responsabilidade de cumprirmos o objetivo seguinte que é conseguirmos ganhar ao Viseu 2001. Não estabelecemos metas a médio/longo prazo durante a época, os objetivos são diários, tanto ao nível do treino, como ao nível do jogo.

Passada a fase regular, o nosso objetivo, para já, é ganhar o jogo em Viseu e depois, em nossa casa, conseguirmos mais uma vitória que dê a passagem às meias-finais.

 

AFCB - O 3º lugar na classificação final da primeira fase foi uma surpresa ou foi algo que perspetivaram no início da temporada?

NC - Fazendo uma avaliação aos plantéis, obviamente perspetivarmos um 3º lugar no início da temporada era ambicioso de mais. A AD Fundão é um clube ambicioso, mas tem os pés bem assentes na terra e tem noção da realidade e das dificuldades que é ser um clube do interior e com todo o que a isso está inerente. Mais não seja a deslocalização em relação aos grandes centros urbanos onde estão a maior parte dos jogadores com qualidade e formados localmente.

Com o fluir da época e a evolução que a equipa foi tendo, pensamos, a certa altura, que o 3º lugar era um objetivo atingível. Apesar de, publicamente, não o termos colocado como tal, essencialmente por ser muito difícil dada a qualidade dos plantéis das formações adversárias como os Leões Porto Salvo, Modicus ou Portimonense SC.

No entanto conseguimos uma consistência que nos permitiu, para além de alcançarmos o melhor lugar de sempre numa primeira fase, conseguimos a melhor fase de jogos consecutivos sem perder desde que estamos na primeira divisão, 10 jogos, bem como a melhor pontuação que havíamos alcançado. Foram três objetivos que, em simultâneo, conseguiram fazer desta época a melhor de sempre na fase regular.

 

AFCB - O Nuno falou nos Leões Porto Salvo, Modicus, Portimonense SC, mas não falou no Sporting CP e no SL Benfica...

NC - São patamares diferentes, prova disso o resultado obtido pelo Sporting na UEFA Futsal Champions League. Nós sabemos que num jogo podemos discutir o jogo com eles, como aconteceu com o Benfica em casa ou com o Sporting para a Taça da Liga, agora sabemos que numa fase regular com 30 jornadas e depois numa competição em play-off em que as eliminatórios ou são “à melhor de três” ou “à melhor de cinco”, que se torna muito difícil, em três jogos, ganhar por duas vezes ao Benfica ou ao Sporting. E no caso da final, em cinco jogos, é preciso ganhar-lhes por três vezes.

Temos noção de que pontualmente nos podemos bater com eles, mas na fase final, como está concebida em Portugal, é muito difícil para qualquer outra equipa, que não Sporting e Benfica, conseguir ombrear com eles próprios.

 

AFCB - O 3º lugar é, por assim dizer, “o campeão dos pequenos”?...

 NC - É o campeão dos clubes com uma estrutura diferente e com capacidade económica totalmente diferente. Há plantéis de primeira divisão que têm orçamentos que dois ou três jogadores do Sporting CP e do SL Benfica conseguiriam pagar. A esse nível a AD Fundão tem os pés bem assentes na terra e sabe que numa competição que não seja a eliminar “a um jogo”, como a Taça da Liga ou a Taça de Portugal, é muito difícil levá-los de vencidos.

 

AFCB - Vão jogar com o Viseu 2001 primeiro fora. É vantajoso ou desvantajoso, na medida em que a classificação do terceiro lugar permite dois jogos em casa à formação da AD Fundão?

NC - Essa é uma das questões que acho que a Federação Portuguesa de Futebol tem de rever. Este ano ficou provado de que todas as equipas, com maior ou menor dificuldade, têm capacidade para jogar a meio da semana. Em todos os campeonatos em que há Play-off, o primeiro jogo é sempre na casa do melhor classificado. Sendo que o terceiro jogo, em caso de existir empate, também é na casa do melhor classificado.

Aquilo que eu defendo é que o primeiro jogo, sábado dia 8 de maio, deveria ser na casa da AD Fundão. O segundo jogo, a meio da semana, na casa do Viseu 2001 e, caso houvesse necessidade de se recorrer ao terceiro jogo, no fim de semana seguinte na casa do melhor classificado da fase regular, no caso concreto da AD Fundão.

Nós temos consciência de que a diferença entres os dois primeiros classificados da primeira fase (Sporting e Benfica) para os outros seis clubes presentes no play-off é muito superior à diferença que existe entre o 3º e 8º classificados. Entre o terceiro e o oitavo lugar da primeira fase estão seis equipas que podem ombrear umas com as outras e ganharem ou perderem independentemente da classificação na primeira fase. Portanto, considero que o fator “mais jogos em casa” possa não ser tão favorável pelo facto do primeiro jogo ser fora. Se a AD Fundão perde em Viseu a pressão fica toda do lado da nossa equipa que terá de vencer dois jogos consecutivos. Apesar de serem os dois em casa a AD Fundão perde o favoritismo que poderia ter numa fase inicial.

 

AFCB - Jogos sem público nas bancadas, têm beneficiado ou prejudicado a AD Fundão?

NC - Prejudica essencialmente a modalidade. Principalmente devido ao facto do clima de treino não ser muito diferente do clima de jogo. Obviamente que depois o fator competição influência as questões psicológicas, mas o ambiente do treino é muito idêntico ao ambiente de jogo. Temos de ter uma preparação mental totalmente diferente para os jogadores conseguirem perceber que, apesar de não existir a envolvência normal, é dia de competir e é dia de conseguir os três pontos para a AD Fundão.

 

AFCB - Uma vez que não há público nas bancadas, como é que têm sentido, se têm sentido, o reconhecimento por este 3º lugar na primeira fase na Liga Placard Futsal 20/21?

 NC - As  boas exibições e os bons resultado da AD Fundão trazem mais gente ao pavilhão, as exibições menos conseguidas e resultados menos bons afastam mais as pessoas do pavilhão. Esta seria uma época em que, claramente, os fundanenses iriam juntar-se em torno da equipa e dariam uma ainda mais força à vontade que os jogadores já têm. É nesse sentido que julgo que o resultado obtido pela AD Fundão não estar a ser tão reconhecido, mesmo a nível local, devido ao afastamento (imposto pela COVID-19) que existe entre adeptos e equipa.

Todavia temos sentido, dentro da medida do possível, um enorme apoio da claque Ultras Fundão. Eles deslocam-se várias vezes ao pavilhão e têm, inclusive, um grupo restrito de adeptos, entrado nas bancadas para apoiar a equipa durante os treinos. Aconteceu isso antes de nos deslocarmos para o jogo da Taça da Liga. Outras vezes estão à nossa espera fora do pavilhão, algo que aconteceu após a vitória em Portimão e a conquista do terceiro lugar, em que quando chegámos às duas horas da manhã ao Fundão, tínhamos cerca de 15 adeptos dos Ultra Fundão à espera da equipa e a entoar cânticos de apoio.

Essa ligação entre equipa e adeptos é muito importante, mas temos consciência de que eles não podendo estar no jogos a ligação não é tão forte e tão vincada e os jogadores acabam por se ressentir.

 

AFCB - Que significado tem para o futsal português o Sporting ter conquistado a UEFA Futsal Champions League?

 NC - Tem vários significados, desde logo foi evidente que no futsal o coletivo, normalmente, superioriza-se às individualidades. Por outro lado ficou provado pelo Sporting CP que há muita qualidade no futsal português e estes jovens que estão a sair da formação do clube acrescentaram muito ao grupo, pois aliam a juventude e ambição à muita experiência que há no plantel do Sporting CP. Ficou também patente que é grande a qualidade dos treinadores portugueses, que muitas das vezes com menos recursos humanos e com menos qualidade nos plantéis conseguem bater-se em competições em que não há margem para falhar.

Acho que o facto das outras ligas europeias permitirem um maior número de estrangeiros nos seus plantéis dá-lhes mais condições para se apresentarem nestas provas com outro tipo de argumentos.

Mas mesmo assim o Sporting CP dignificou ao máximo o futsal português e a vitória alcançada é um prémio muito justo por tudo o que a equipa do Sporting CP fez na competição e, ainda mais, tendo em consideração a diferença que existe ao nível das condições de trabalho e orçamentos das equipas presentes em prova.

O futsal português está de parabéns.